O curso de pedagogia no Brasil : uma análise reconstrutiva interseccional dos condicionantes de acesso à educação superior

Abstract

Esta pesquisa parte do seguinte problema: como as intersecções dos marcadores sociais de gênero, raça e classe determinam o ingresso das e dos estudantes ao curso de pedagogia em instituições públicas ou privadas do DF? Para alcançar respostas, delimitamos os seguintes objetivos específicos: a) Identificar quem são as e os estudantes dos cursos pedagogia públicos e privados sob a perspectiva de gênero, raça e classe; b) Conhecer as motivações e/ou condições que levam as e os estudantes das instituições públicas e das privadas à escolha pelo curso de pedagogia; c) Entender como o ingresso das e dos estudantes aos cursos de pedagogia em instituições públicas ou privadas se relaciona com as políticas públicas educacionais afirmativas e de inclusão social; d) Interpretar e reconstruir a relação entre o processo histórico de exclusão social de gênero, raça e classe no país e o curso de pedagogia. Articulamos a hermenêutica na perspectiva reconstrutiva de Habermas à interseccionalidade, estudada por meio de autoras como Heleieth Saffioti, Lélia Gonzalez, Ângela Davis, bell hooks, Audre Lorde, e, Patrícia Hill Collins, e, discutimos a justiça social, por ser base da interseccionalidade, por meio da conceituação democrática bi/tridimensional de Nancy Fraser. Assim, realizamos contextualizações históricas, culturais e políticas sobre questões importantes, como o surgimento da educação superior no país, o atravessamento da relação público e privado, os diferentes momentos históricos e os sistemas de governo neles estabelecidos. Demos atenção especial ao curso de pedagogia, discutindo sua formação organizacional e humana, desde a instituição até os momentos atuais. A pesquisa empírica foi realizada tendo como fonte o curso de pedagogia, modalidade presencial, de quatro IES do Distrito Federal, duas públicas e duas privadas. A produção dos dados foi realizada por meio de questionários aplicados a 97 estudantes e as análises foram empreendidas com base na hermenêutica reconstrutiva e nas compreensões interseccionais da matriz de dominação de Patrícia Hill Collins. Finalizamos com a tese de que as intersecções dos sistemas de poder, patriarcado, racismo e capitalismo, constituem seres e, no caso das(os) discentes de pedagogia, as(os) posiciona no campo da desvalorização social, cultural e política. Determinadas(os) ao curso pelo gênero desvalorizado – mulheres, feminino; pela raça desumanizada, as pessoas negras – com destaque para os homens que estão caminhando mais ao lado das mulheres nas ocupações tidas como femininas; e, pela classe social desprestigiada, dizendo respeito, sobretudo, à questão econômica e cultural das(os) discentes e que, em nossa pesquisa, foi o fator potencializador para a maioria das(os) negras(os) estar na rede privada. Nesse sentido, também foram desvelados dois diferentes subgrupos raciais: um, com melhores condições econômicas e culturais, o das pessoas negras que chegam à universidade pública, e, outro, contrário ao primeiro, com menos possibilidades, ao qual as cotas não alcançam e estão presentes na rede privada. Coletividades bivalentes que demandam articulação intersetorial de políticas públicas que visem tanto correção das desigualdades materiais, ou da injustiça econômica, quanto da dominação cultural, ou seja, uma justiça social democrática configurada pela união de redistribuição e reconhecimento, para fins de transformação social.