Memória autoecobiográfica educativa : pesquisa-formação, pertencimento docente e educação ambiental

Abstract

A formação tem sido apontada como aspecto importante para minorar a falta de engajamento docente nas atividades de Educação Ambiental em escolas públicas e a consequente incidência de abordagens superficiais e descontínuas das temáticas ambientais. Nesse sentido, a presente pesquisa teve por objetivo analisar a relação humano/natureza e o sentimento de pertencimento docente ao campo de atuação da Educação Ambiental no contexto escolar por meio de um dispositivo de pesquisa-formação nomeado “Memória Autoecobiográfica Educativa”. Trata-se da concepção de um processo formativo fundado na reflexão dialógica sobre valores ecológicos e conexão com a natureza, a partir das memórias educativas e ambientais dos sujeitos. O público-alvo foi constituído por professores da Educação Básica, em regência de classe na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com atuação em escolas da rede pública de ensino do Distrito Federal. A pesquisa se fundamentou no pensamento complexo e transdisciplinar ao propor o diálogo teórico-metodológico entre a Educação Ambiental, a Ecologia Humana e a Psicologia Ambiental, mediado pela abordagem (auto)biográfica. O estudo, de método misto sequencial, foi estruturado em três fases: na primeira, com abordagem quantitativa, aplicou-se um survey a 296 professores de 17 escolas, com média etária de 42,1 anos, sendo 91,9% do sexo feminino. O survey foi composto por duas escalas: Inclusão da Natureza no Self (INS) e Questionário de Valores Refinado (PVQRR). Na segunda fase, com abordagem qualitativa, realizou-se um processo formativo por meio de oficinas autoecobiográficas. Participaram dessa etapa 15 professores, com média etária de 40,9 anos, sendo 12 do sexo feminino. A terceira fase consistiu na reaplicação dos instrumentos aos participantes do processo formativo, para verificar possíveis mudanças nos escores iniciais que pudessem sinalizar alterações na percepção de inclusão à natureza e a ativação de valores ecológicos. Para os dados quantitativos foram utilizadas análises descritivas e inferenciais multivariadas, enquanto para os dados qualitativos foi a análise compreensiva-interpretativa das narrativas. Os resultados apontam aumento das médias obtidas na fase 3 em relação às médias do estudo inicial na fase 1. Na mesma direção, as narrativas orais e escritas sinalizaram condições favoráveis a mudanças e incremento da conexão com a natureza e dos valores ecológicos, bem como pertencimento docente ao campo da educação ambiental. Vislumbram-se, portanto, possíveis contribuições para políticas públicas de formação docente, que busquem fomentar a conexão com a natureza e a ativar valores ecológicos pela mediação do método (auto)ecobiográfico.