Avaliação da atividade da enzima adenosina deaminase em pacientes com leishmaniose cutânea

Abstract

Introdução: As leishmanioses são um grupo de doenças infecciosas causadas por protozoários do gênero Leishmania. Umas 360 milhões de pessoas em 88 países estão em risco de desenvolver alguma das formas da doença. Em 2022 no Brasil foram notificados 13.044 casos novos de leishmaniose tegumentar americana. Os critérios de cura são clínicos, baseados na reepitelização completa das úlceras cutâneas. Existe uma necessidade de identificar marcadores biológicos com alta especificidade e sensibilidade que possam ser aferidos de forma pouco invasiva para auxiliar no acompanhamento do paciente e na avaliação da resposta terapêutica de uma forma objetiva. Um marcador promissor é a enzima adenosina deaminase, cuja utilidade tem sido demonstrada no diagnóstico de tuberculose e estudos tem relatado uma maior atividade enzimática em pacientes com leishmaniose visceral e leishmaniose dérmica pós-calazar. Métodos: Foi realizado um estudo para avaliar a atividade da enzima adenosina deaminase em pacientes diagnosticados com leishmaniose cutânea. Foram incluídos 15 pacientes recém diagnosticados com leishmaniose cutânea e acompanhados mensalmente durante e depois do tratamento por um período de 90 dias. Em cada avaliação foi realizada uma avaliação clínica e foi realizada uma coleta de sangue venoso para posterior avaliação dos níveis enzimáticos. Paralelamente foram avaliados 10 participantes no grupo controle uma única vez. A quantificação enzimática foi realizada utilizando o Kit comercial Adenosina Deaminase da empresa Biotecnica. Resultados: No grupo de estudo houve um predomínio do sexo masculino, estado conjugal casado, nível educacional fundamental ou menor, renda mensal inferior a 2 salários-mínimos, e a média de idade foi de 54,07 ±15,38 anos. O grupo controle apresentou um valor mediano de adenosina deaminase de 6,29 (4,45) U/L. No grupo de estudo, o valor foi de 12,34 (9,06) U/L no D0, 12,26 (5,38) U/L no D30, 11,48 (5,45) U/L no D60 e 8,62 (4,13) U/L no D90. Foi encontrada uma diferença estatística significativa (p=0,001) entre os valores do grupo controle e do grupo de estudo do D0. Também foi encontrada uma diferença significativa entre os valores do grupo de estudo nos diferentes momentos do acompanhamento (p=0,004). A atividade enzimática foi avaliada como teste diagnóstico de leishmaniose cutânea utilizando um valor de 11,56 U/L como ponto de corte, sendo calculada uma especificidade de 100%, uma sensibilidade de 66,67%, e p=0,001. Também foi avaliada a atividade enzimática como teste diagnóstico de falha terapêutica utilizando um ponto de corte de 14,13 U/L, sendo calculada uma especificidade 100%, sensibilidade de 28,57% e p=0,49. Não foi encontrada correlação entre os níveis enzimáticos e a superfície total ulcerada. Conclusão: Os resultados indicam uma maior atividade da enzima em pacientes diagnosticados com leishmaniose cutânea e uma diminuição gradual dos níveis enzimáticos ao longo do período de acompanhamento. As limitações do estudo foram um tamanho amostral reduzido, o uso de amostragem não probabilística e a não identificação da espécie de Leishmania. Estudos com amostras maiores e que incluam outras formas clínicas da doença são sugeridos.