Influência do uso de protetores bucais na atividade eletromiográfica dos músculos masseter e temporal em tenistas amadores e sua relação com fatores psicossociais

Abstract

Nos últimos anos, a odontologia esportiva tem se destacado como uma área de grande relevância. Durante a prática de exercícios, especialmente nos momentos em que os atletas requerem mais força para realizar movimentos, os músculos tendem a se contrair com maior frequência e intensidade, levando ao apertamento dentário. Isso pode resultar em efeitos prejudiciais para os músculos, articulações e/ou dentes. O protetor bucal (PB) desempenha um papel fundamental ao reduzir a força do impacto durante traumas, distribuindo-a de maneira uniforme e evitando lesões ou diminuindo suas consequências. O objetivo deste estudo foi analisar e comparar a atividade dos músculos masseter e temporal em atletas amadores praticantes de tênis, por meio da eletromiografia (EMG), antes e durante o treino, com e sem o uso do protetor bucal do tipo III. Além disso, buscou-se correlacionar os dados eletromiográficos com fatores psicossociais, comportamentos bucais e qualidade de vida relacionada à saúde bucal. Foram coletados dados de 26 atletas por meio dos seguintes questionários: limitação funcional mandibular (JFLS), estresse percebido (PSS), sintomas de ansiedade (HADS e GAD-7) e depressão (HADS), hipervigilância da dor (PVAQ), lista de comportamentos orais (OBC), qualidade de vida e saúde dos atletas (OHIP-14 e PHQ15). Posteriormente, os participantes foram submetidos ao exame clínico e à EMG tanto sem quanto com o protetor bucal. Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística utilizando os testes de Wilcoxon, Mann-Whitney e Friedman, seguido pelo teste post hoc de Nemenyi com p<0,05. Os resultados demonstraram que a atividade EMG em repouso dos músculos masseter e temporal foi significativamente maior durante o uso do protetor bucal, em comparação com a atividade sem o protetor. (p=0,007 e 0,038 respectivamente). No músculo temporal, verificou-se maior média de atividade com protetor comparado com sem protetor (p=0,028). O teste MannWhitney mostrou que avaliando o masseter e temporal juntos bilateralmente, houve efeito na média dos 10 picos máximos sem protetor(U=200,000,p=0,012) e com(U=194,000,p=0,008). O teste de Spearman mostrou correlações positivas entre contrações fásicas por minuto do temporal bilateral com protetor e os sintomas de ansiedade(r=0,566,p=0,003), de depressão(r=0,614,p=0,001) e estresse percebido(r= 0,566,p=0,003) e correlação negativa entre a média dos 10 picos do masseter bilateral sem protetor durante a atividade e o estresse percebido(r=-0,436,p=0,0026). Após essa análise, um questionário sobre o uso e a autopercepção do PB foi enviado aos participantes, revelando que, embora a maioria reconhecesse os benefícios na prevenção de lesões, 86% da amostra não utilizava o protetor bucal durante a prática esportiva. Os achados deste estudo concluíram que houve um aumento da atividade muscular durante a prática do tênis, em comparação com o repouso e, o uso do PB aumentou a atividade dos músculos mastigatórios em algumas situações, sugerindo que mais estudos sejam realizados para uma avaliação mais aprofundada do seu uso durante a prática do tênis. Além disso, verificou-se uma correlação entre ansiedade, estresse e apertamento dentário durante a atividade esportiva. Assim, ressalta-se a importância de conscientizar os atletas amadores sobre os riscos associados à prática esportiva e dos benefícios do uso do protetor bucal na prevenção de lesões.