Atenção à saúde no campo : desafios da utilização dos serviços pela juventude do MST no DF e Goiás

Abstract

Compreende-se que a ideologia neoliberal acomete o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vez que disputa espaço e busca fomentar iniciativas na área de saúde que são focalizadas, ameaçando a perspectiva de um sistema de saúde público e de qualidade. Portanto, o SUS surge no Brasil no acirramento da luta de classes, com fragilidades quanto ao seu financiamento e efetivação. Para a juventude camponesa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), os obstáculos enfrentados para utilizar o SUS podem ser impeditivos de uma efetiva promoção e prevenção à saúde. Assim, essa pesquisa buscou analisar a utilização dos serviços de saúde pela juventude camponesa, entre 18 e 30 anos, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, territórios dos estados de Goiás e Distrito Federal. Com esse propósito, foram definidos três objetivos específicos: 1) mapear as percepções sobre saúde para a juventude camponesa estudada; 2) conhecer os desafios na utilização dos serviços de saúde de atenção primária pelos jovens; 3) discutir agronegócio e agroecologia como elementos presentes na determinação social dos processos de saúde e doença da juventude camponesa. A discussão sobre agroecologia e agronegócio é fundamental no debate sobre saúde da juventude do campo, uma vez que o agronegócio gera conflitos sociais, políticos e culturais que impactam a vida dos jovens camponeses do MST. Além disso, interfere na saúde mental desses jovens, não só por ser apresentado como única alternativa de trabalho para este grupo etário, mas também por provocar problemas de saúde devido ao contato com aditivos químicos e tóxicos utilizados nos trabalhos das produções agrícolas. Nessa pesquisa recorreu-se ao método materialista históricodialético buscando apreender a totalidade dos fatos no que se refere à saúde da juventude camponesa, por meio de uma leitura histórica crítica referente à determinação social do processo saúde-doença. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida por meio das técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e entrevistas semiestruturadas. Foram realizadas nove entrevistas com jovens do MST. Concluiu-se que os jovens entrevistados compreendem o acesso aos serviços de saúde como um de seus principais desafios, por estarem no campo. Assim, confirmou-se que o agronegócio influencia na determinação social dos processos de saúde das juventudes camponesas.