A imitação recíproca dos padrões tonais na Teoria de Aprendizagem Musical de Edwin E. Gordon

Abstract

A presente dissertação apresenta resultados sobre como ocorre a imitação vocal na aprendizagem musical de crianças de dois anos que frequentam aulas de musicalização. A problemática desta pesquisa surge a partir da dualidade da imitação na aprendizagem musical. Por um lado, ela é entendida como um processo de aprendizagem, por outro lado, uma ação mecanizada que não gera criatividade. O referencial teórico desta pesquisa discute essa dicotomia por meio da Teoria de Aprendizagem Musical (TAM) de Edwin E. Gordon. O autor apresenta três tipos de aprendizagens musicais pelas quais as crianças passam na primeira infância: aculturação, imitação e assimilação. Ele explica que as crianças aprendem música, assim como aprendem a falar. Os modelos de voz cantada, bem como os padrões tonais, são os meios para ensinar a criança a cantar. Tendo em vista estas considerações, a presente dissertação buscou compreender como ocorre a imitação dos padrões tonais de crianças de dois anos em aulas de musicalização. A revisão de literatura apontou que a imitação vocal é uma comunicação entre adulto e bebê que gera sincronia tonal, temporal e afetiva entre a díade. De abordagem qualitativa, esta pesquisa investigou uma turma de musicalização de crianças com idades entre dois e três anos de uma escola de música privada de Brasília/DF, na qual tem sua base pedagógica a TAM. Utilizou-se o estudo de casos múltiplos (Yin, 2001) para cruzar dados de cada caso único, identificando e caracterizando as manifestações musicais e expressivas imitativas dos padrões tonais. Foram utilizadas a observação participante (Gil, 2008), o questionário (Gil, 2008) e a videogração (Carvalho, 2004) como procedimentos metodológicos. Utilizou-se a análise qualitativa de episódios de interação (Pedrosa; Carvalho, 2005) como procedimento analítico. Como resultado, foi identificado que a imitação dos padrões tonais de crianças de dois anos em aulas de musicalização ocorre de diversas formas, especialmente pela imitação recíproca, compreendida como um diálogo imitativo recíproco em que adulto e criança trocam um conhecimento musical de forma mútua. A afetividade é identificada como a base da imitação, tendo em vista os vínculos seguros proporcionados pelos cuidadores e professores de música, os modelos de voz cantada, o contato visual, o direcionamento, a atenção, o engajamento e o silêncio como emergentes da imitação na aprendizagem musical. A imitação recíproca foi identificada como um processo de audiação preparatória, tendo como função a organização e a discriminação dos padrões tonais e rítmicos por meio da interação musical recíproca, potencializando a audiação preparatória da criança. A intencionalidade, o protagonismo, a discriminação dos padrões tonais, a sintaxe musical e a sincronia tonal foram caracterizados como processos de aprendizagem musical por meio da imitação recíproca. A orientação bidirecional do professor de música, potencializa a aprendizagem musical por meio da imitação. Do contrário, a orientação unidirecional, pode estabilizar a aprendizagem musical na imitação.