O quê se publica no Brasil sobre corpo? : reflexões sobre o corpo “fitness” na produção de conhecimento brasileira à luz de uma pesquisa bibliográfica

Abstract

Fatores biológicos ainda ocupam centralidade para a definição de padrões corporais na produção científica do campo de conhecimento e intervenção pedagógica da educação física, quando a temática a ser investigada diz respeito à noção de corpo, notadamente, do corpo “fitness”. Narrativas recorrentes expostas em redes sociais, como Instragram®, pautam-se em variáveis antropométricas, associadas à quantidade de gordura ou de massa magra nos corpos das pessoas e se fazem presentes nos discursos de frequentadores/as de academias de ginástica ou de seguidores/as de perfis de personalidades do mundo fitness, inclusive, alguns deles sem a formação profissional adequada para atuar na área. Como pesquisadora do campo da educação física, nossa intenção, ao propor o estudo desta temática, foi desvelar como o corpo fitness é apresentado em artigos na produção científica brasileira, questionando-se qual é a concepção de corpo que permeia a compreensão de autores e autoras das distintas áreas de conhecimento e regiões do Brasil. Ante o exposto, nosso problema de pesquisa é: como a produção científica brasileira no período compreendido entre 2007 e 2021 trata a noção de corpo? Será que por trás dessa noção encontram-se as noções de corpo fitness como um corpo perfeito? E como objetivos temos o seguinte: analisar a concepção/definição de corpo na produção científica brasileira, publicada em artigos classificados no Portal de Periódicos Qualis Capes situados nos estratos A e B, no período compreendido entre os anos de 2007 e 2021, considerando os descritores corpo, fitness, saúde e estética. E, pretendemos, especificamente: (i) Identificar quem são os/as autores/as, quais são as áreas de formação desses/as autores/as e onde se encontra essa produção conforme a distribuição geoespacial no Brasil. (ii) Descrever as concepções de corpo presente nos artigos identificados e quais são unidades de sentidos por eles utilizadas. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa no modelo bibliográfico de natureza descritiva. Houve um recorte de 2007 a 2021. Foi utilizado o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Definiu-se como descritores: (corpo OR body) AND fitness AND (health OR saúde) AND (estética OR aesthetic). A pré-análise dos artigos foi feita por meio do software NVivo Realease (2021). A análise em profundidade ocorreu por meio da análise de conteúdo, segundo Bardin (2016), por meio das unidades de sentido. Recorremos às referências teórico-metodológicos da sociologia do corpo, notadamente, Le Breton (2007); Mauss (2018), Vigarello; Corbin; Courtine (2009) cujo foco é a compreensão de ser humano ampliada, considerando fatores biológicos, psicológicos e sociais. Os principais resultados apontam que a produção científica é enfrentada como temática por pesquisadores do campo da educação física, que publicam, majoritariamente, em periódicos dessa área do conhecimento e que há uma concentração geoespacial destes pesquisadores no eixo sul-sudeste. As temáticas corpo, saúde e estética se relacionam nos artigos com os termos: imagem, consumo, alimentação, suplementos, beleza, academias, musculação, forma, ginástica, hipertrofia, silhuetas, fitness, fisiculturismo e gordura, o que pressupõe uma clara relação entre corpo e estética. Por fim, concluímos que nós, profissionais da área da saúde em especial os que lidam com o entendimento do corpo fitness e todo o universo da imagem corporal, possamos nos concentrar em passar informações mais assertivas de cuidado com o corpo a fim de proporcionar qualidade de vida e sociabilidade durantes essas práticas. Da mesma forma, é necessário evitar procedimentos que tragam possíveis riscos para saúde dos pacientes/alunos, cujo objetivo seja evitável para a sua funcionalidade corporal, sendo puramente estético. Finalmente interromper as violências, caso ocorram, que o corpo foi sujeito para chegar a um padrão restrito como o percebido e identificado “corpo fitness”, cuja violência é psíquica, física e cultural.