Prevalência e incidência de desfechos biopsicossociais no paradesporto : proposta de um sistema de vigilância

Abstract

As pesquisas voltadas para vigilância no paradesporto possuem foco em registros e monitoramento de lesões e doenças, fruto de material adquirido retrospectivamente em grandes competições. Apesar do pioneirismo desses estudos, há poucas informações que envolvam um monitoramento de todo o período de treinamento dos atletas, os quais não estão expostos ao risco de lesão e doença somente durante a competição. Para além disso, não há estudos que investiguem outros fatores biopsicossociais importantes – psicológicos e emocionais, nutricionais, uso de tecnologia assistiva, dificuldades financeiras e com transporte – que também podem interferir direta ou indiretamente na performance de para-atletas e, portanto, devem ser monitorados assim como as lesões e doenças. Nesse contexto, objetivamos monitorar os desfechos biopsicossociais indesejáveis presentes na prática de modalidades paradesportivas de um Centro de Referência Paralímpico a fim de levantar requisitos para proposição e amadurecimento tecnológico de um Sistema de vigilância para desfechos biopsicossociais indesejáveis no paradesporto. Realizamos um estudo longitudinal para registrar a prevalência, incidência e riscos de desfechos biopsicossociais indesejáveis presentes na prática de modalidades paradesportivas de um Centro de Referência Paralímpico. Os desfechos foram registrados por meio de notificações em formulário online específico, criado no Google Forms, para investigação nas modalidades paralímpicas, durante dois semestres, ao longo de 28 semanas de um ciclo completo de treinamento esportivo (um ano). Realizamos a vigilância paradesportiva de 95 atletas, distribuídos em oito modalidades paradesportivas. A maioria (76,8%) apresentou algum desfecho biopsicossocial indesejável ao longo dos seis meses de vigilância. Encontramos nos resultados categorias de desfechos biopsicossociais importantes como ausência de atletas no treino e situações relacionadas à fatores ambientais. Os dados indicam maior incidência e prevalência de desfechos voltados para componentes como Atividade e Participação e Fatores contextuais do que o componente de Estrutura e Função do corpo (categoria onde se enquadram as deficiências decorrentes de lesões e doenças). A partir da vigilância realizada, monitoramos desfechos biopsicossociais indesejáveis relevantes durante os treinos de modalidades paradesportivas, o que contribuirá para a ampliação de horizontes em outros estudos no paradesporto. Além disso, identificamos elementos para um amadurecimento tecnológico que viabiliza a concepção de sistema de vigilância paradesportiva e, assim, direcionando futuros programas de prevenção ou minimização de desfechos no paradesporto de maneira assertiva e fundamentada no modelo biopsicossocial.