Transtornos mentais comuns e padrões de estilo de vida em adolescentes brasileiros

Abstract

Introdução: Transtornos Mentais Comuns (TMC) compreendem os transtornos de ansiedade e depressão e podem ser identificados por meio de instrumentos de rastreamento em nível populacional, como o General Health Questionnaire (GHQ). No Brasil, estima-se que 30% dos adolescentes apresentem TMC. Objetivos: Identificar a prevalência de TMC no mundo; os padrões do estilo de vida e os alimentos consumidos de acordo com o processamento, associados a esses transtornos em adolescentes brasileiros. Métodos: (1) Revisão sistemática acerca da prevalência de TMC em adolescentes no mundo foi realizada a partir de buscas nas bases de dados Medline, Embase, Scopus, Web of Science, Lilacs, Adolec, além da literatura cinza (Google Scholar, PsycINFO e Proquest Dissertações e Teses), de acordo com o protocolo PRISMA e com emprego de meta-análise. (2) Estudo original sobre associação entre padrões de estilo de vida e TMC, a partir de dados do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA). Caraterísticas de estilo de vida (qualidade da dieta, ingestão de água, atividade física, etilismo, tabagismo e sono) foram consideradas para identificar padrões por meio da análise de componentes principais. A associação entre padrões e TMC foi investigada por regressão logística, ajustada por sexo, idade, raça/etnia, dependência administrativa da escola, estado nutricional e consumo energético total. (3) Estudo original com os mesmos dados do ERICA, acerca do consumo alimentar de acordo com o nível e o propósito do processamento dos alimentos, segundo estado de saúde mental. Análise de regressão logística, bruta e ajustada, foi realizada para avaliar a direção e a significância estatística da associação entre TMC e quartos de consumo dos alimentos in natura e minimamente processados e quartos de consumo de alimentos ultraprocessados. Dependência administrativa da escola, estado nutricional e consumo energético total foram as variáveis de ajuste. Resultados: (1) De acordo com a meta-análise a partir de 43 estudos avaliados (n=200.980), a prevalência global de TMC em adolescentes foi de 25,0% (IC95% 19,0-32,0; I2=99,8%) e 31,0% (IC95% 28,0-34,0; I2=97,5%), utilizando o ponto de corte do GHQ de 4 e 3, respectivamente. (2) Foram revelados dois padrões de estilo de vida: o padrão 1 caracterizado pelo maior consumo de bebidas alcoolicas, sono inadequado e não tabagismo e o padrão 2 composto pelo menor consumo de alimentos ultraprocessados, maior consumo de alimentos in natura e minimamente processados, maior consumo de água e prática de atividade física suficiente. Para o padrão 1, adolescentes no terceiro tercil apresentaram maior chance de TMC e no padrão 2, aqueles no segundo e o terceiro tercis, apresentaram menores chances de TMC. (3) Observou-se efeito de proteção para TMC no quarto de maior consumo de alimentos in natura e minimamente processados (OR 0,8; IC 95% 0,8-0,9) para o conjunto da amostra e considerando o segundo quarto de consumo de ultraprocessados entre meninas (OR 0,9; IC 95% 0,8-1,0). Por outro lado, o quarto de maior consumo de ultraprocessados apresentou risco para a presença de TMC entre meninos (OR 1,2; IC 95% 1,0-1,3). Conclusões: Observou-se uma elevada prevalência mundial de TMC em adolescentes, especialmente entre meninas quando adotado o ponto de corte de 3 ou mais sintomas do GHQ. A análise conjunta de fatores de risco e proteção revelou dois padrões de estilo de vida, um predominantemente não saúdável e um outro saudável, associados à risco e proteção da ocorrência de TMC, respectivamente. Em relação ao mesmo desfecho, observou-se efeito protetor do maior consumo de alimentos in natura e minimamente processados e de risco do consumo de alimentos ultraprocessados em adolescentes do sexo masculino.