Vivências de bem-estar e mal-estar e saúde mental no trabalho em um órgão de segurança pública brasileiro

Abstract

Os objetivos desta pesquisa foram analisar se as vivências de mal-estar estão ligadas ao aumento do adoecimento mental e se as vivências de bem-estar estão ligadas à promoção de saúde mental em trabalhadores de um órgão público brasileiro. A revisão de literatura demonstrou prejuízos associados ao mal-estar para sociedade, trabalhadores, usuários e organizações, também foram encontrados benefícios associados a promoção de bem-estar e qualidade de vida. Além disso, foram encontradas evidências da ineficácia de abordagens assistencialistas. No estudo, foi realizado uma comparação entre resultados paralelos do Inventário de Avaliação de Qualidade de Vida no Trabalho (IA_QVT) e duas aplicações do General Health Questionnaire (GHQ-12), uma relacionada às vivências de bemestar e outra às vivências de mal-estar. Embora não pudessem ser estatisticamente relacionadas por restrições metodológicas, tiveram seus resultados comparados qualitativamente com base no referencial teórico adotado no estudo. A amostra foi composta por servidores públicos de um órgão brasileiro de segurança pública, no qual o IA_QVT obteve N=881 respondentes e a aplicação do GHQ12 obteve N=187. As principais fontes de mal-estar relatadas pelos respondentes se relacionaram a falta de reconhecimento e crescimento profissional e condições de trabalho insatisfatórias enquanto as principais fontes de bem-estar estão associadas às reconhecimento e crescimento profissional e organização do trabalho. Em relação à saúde mental, o resultado evidencia coexistência de mal-estar e bem-estar no trabalho, com dois resultados do GHQ-12 apresentando médias muito próximas, mas discretamente maior na situação de mal-estar com diferença estatisticamente significativa. Ambas, no entanto, apresentam adoecimento, com uma taxa de Transtornos Mentais Comuns (TMC)=57% e Transtorno Depressivo Maior (TDM) ou Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)=33%. A análise fatorial do GHQ-12 encontrou em uma estrutura bifatorial aquela que melhor se adequa ao teste e aos fatores encontrados no presente estudo coincidem com os encontrados por Hu, et al. (2007), nomeados pelos autores como saúde mental positiva e sintomas de adoecimento mental. Ao comparar as médias das duas aplicações relacionadas com cada um dos fatores foram encontradas diferenças significativas, com p=<0,001 no fator adoecimento mental e uma média mais alta no GHQ-12 relacionado ao mal-estar. O estudo mostra evidências estatisticamente significativas associam às vivências de mal-estar ao adoecimento psíquico, contribuindo com o desenho de programas de QVT que ajudem na prevenção de agravos à saúde mental.