A escuta na primeira infância : uma possibilidade de educar para a realidade do desejo no chão da escola

Abstract

A presente tese busca elucidar que os desejos ditos e não ditos das crianças, por meio da escuta e da garantia de voz, podem provocar movimentos no vínculo didático possibilitando uma educação para a realidade. Situada no campo epistemológico da Psicanálise em interface com a Educação, buscando as contribuições da Sociologia da Infância, está comprometida com a produção de saberes subjetivos por meio do desenho de uma Manta Subjetiva dos Desejos de Aprender, pela costura das experiências marcadas na escuta do cotidiano da Educação Infantil. Desta forma, propõe aos profissionais que atuam na rede pública de educação infantil do Distrito Federal ―dobrar‖ a organização pedagógica ―para a criança‖ criando o vinco para uma organização pensada ―com a criança‖, em consonância com a perspectiva educativa explicitada nos documentos curriculares (DISTRITO FEDERAL, 2014). Os objetivos elencados foram: analisar como desejos ditos e não ditos das crianças, por meio da escuta e da garantia de voz, podem vir a movimentar o vinculo didático possibilitando uma educação para a realidade; refletir sobre como os desejos ditos e não ditos favorecem o movimento no vinculo didático; verificar o lugar de fala do sujeito-criança no percurso pedagógico pensado pelo sujeito-professor; e identificar o lugar dos desejos ditos e não ditos das crianças no chão da escola. Para composição do caminho de escuta, optou-se metodologicamente pela investigação qualitativa, apoiada em uma abordagem de multimétodos. Pela observação participante, conseguimos adentrar o chão da sala de aula e nos colocamos imersos na construção do vínculo didático. Rodas de conversa, estratégia que se mostrou singular para a escuta das crianças, realizada em três etapas: no estádio 01 (descrição da autorização do giro da roda); estádio 02 (momento para o registro das narrativas); e, estádio 03 (três), (momento da escuta de 04 crianças que participaram das rodas de conversa). A entrevista narrativa nos permitiu compreender o lugar de fala da criança na organização pedagógica. O dispositivo da memória educativa nos aproximou do tempo-história vivido pelos sujeitos-professores. A análise dos dados construídos revelou entrelaçamento constituído pelos eixos: o lugar de fala das crianças instaurado pela (in)satisfação de modelos pedagógicos; a concepção de organização do espaço pedagógico da educação infantil; o lugar pensado para as crianças atravessado pela temporalidade da dimensão do ato docente; e o lugar alicerçado pelas cenas familiar/pedagógica. A construção desse caminho sinalizou que o desejo atravessa o lugar de fala das crianças e a temporalidade da dimensão do ato docente e revelou a importância de garantir a voz das crianças como sujeitos do desejo, protagonistas e participativos. O estudo aponta, ainda, que o espaço educativo é lugar das ilusões (psico)pedagógicas, que contribui para tamponar a realidade do desejo, excluída na ordem discursiva hegemônica do cotidiano escolar. Nesse sentido, reconhecemos que o aporte psicanalítico contribuiu para pensar nas vicissitudes da emergência de um sujeito do desejo acerca de sua constituição social e individual no tempo histórico da infância.