A escrita e a constituição do sujeito com diagnóstico de autismo : caminhos para a inclusão escolar

Abstract

A partir do acompanhamento de uma criança com diagnóstico de autismo em uma escola pública regular e, assumindo uma postura na qual a escrita não é apenas um sistema de representação da fala, mas um modo do sujeito acontecer na linguagem, a proposta deste trabalho foi investigar, à luz de alguns operadores teóricos da psicanálise, o processo de aquisição da linguagem escrita da criança com diagnóstico de autismo e seus efeitos na subjetivação desses sujeitos. Sabemos que a escolarização dessas crianças é bastante desafiadora e impõe uma série de questões aos profi nais envolvidos nesse processo, convocando-os a refletirem acerca dos aspectos do discurso pedagógico hegemônico que preconiza uma forma padronizada de aprender. Nossa proposta de discussão apontou em outra direção, ou seja, pensar o fazer pedagógico a partir de uma orientação que tome o aluno como sujeito e esteja atenta à singularidade de cada um no ambiente coletivo da escola. Ao longo desse percurso, a psicanálise serviu como referência por apresentar importantes operadores de leitura para a condução do trabalho, tanto no que se refere à produção da escrita alfabética, quanto no que diz respeito à inclusão escolar. Para tanto, adotamos uma abordagem metodológica qualitativa, realizada por meio de um estudo de caso. Apresentamos alguns recortes da trajetória escolar do aluno, destacando a importância do trabalho com a escrita para as diversas conquistas, tanto no campo das aprendizagens escolares como nos aspectos subjetivos. Dessa trajetória, enfatizamos a importância do olhar atento do professor, da aposta na subjetividade e das flexibilizações nas estratégias de ensino. Mostramos como, da emergência e da antecipação de sentido aos primeiros rabiscos, a criança pôde constituir uma imagem própria e avançar no processo de aquisição da escrita, ferramenta que lhe deu possibilidade de se expressar e conquistar um lugar para si na escola.