Entre a inovação e o mal-estar : como professores(as) de Ciências da Natureza lidam com a demanda por mudanças na educação

Abstract

A noção de inovação está bastante presente na educação contemporânea. A despeito da demanda crescente por inovação na educação, no entanto, suas significações raramente estão evidentes. A constante e frequente pressão para que os(as) professores(as) inovem apresenta importante potencial de engendrar crises identitárias nesses sujeitos. Nossa pesquisa gravita em torno desta ideia. Nosso objetivo é compreender como professores(as) de ciências lidam com a frequente demanda por inovação na educação contemporânea e como se sentem diante dela. Fazemos isso a partir de relatos de vida e experiências de professores(as) reconhecidos(as) por suas comunidades escolares como inovadores(as), bem como gestores de escolas com o mesmo reconhecimento. Conduzimos entrevistas semi-estruturadas, além de entrevistas abertas com elementos de entrevista biográfica com dois gestores e seis professores de ciências. Trata-se de uma pesquisa (auto)biográfica em que buscamos interpretações inéditas sobre a relação entre inovação e o mal-estar docente. Primeiro, identificamos como esses(as) professores(as) compreendem a ideia de inovação na educação e, em seguida, buscamos compreender se eles(as) expressam a ideia de mal-estar docente e de que forma esse estado é traduzido por eles(as). Exploramos a fragilidade do termo "inovação na educação" e concluímos que o conceito é complexo, polissêmico e problemático. Apesar dessa diversidade, a demanda por inovação no campo educacional é crescente, e os(as) professores(as) são frequentemente acionados(as) para promover tais mudanças. Outro conceito central em nosso trabalho é o de identidade na contemporaneidade, com foco nas crises identitárias atuais. Baseados em obras de Zygmunt Bauman (1997)(2001)(2005)(2008) e Stuart Hall (1997)(1997b)(2006)(2008), caracterizamos a contemporaneidade como um tempo em que os indivíduos podem ter múltiplas identidades, que são construídas por meio de um processo narrativo. A partir do trabalho de Manfré (2014), que investiga o mal-estar docente, chegamos à noção de crise identitária relacionada à questão da "inovação na educação". O mal-estar docente é entendido como um estado, e não apenas um fenômeno, neste contexto. Nossos achados apontam para o fato de que o sentimento em relação à demanda constante e frequente por inovação na educação é de mal-estar. Em maior ou menor grau, a demanda por inovação é compreendida como insatisfação sobre quem são ou se propõem a serem. A percepção dos(as) professores(as) é de que é imprescindível para realizar a demanda por inovação na educação, possuir algum domínio técnico. Não fica evidente, entretanto, sobre o que exatamente versa tal domínio. Uma maneira de lidar com o sentimento de mal-estar que identificamos é estabelecendo compromissos de aprendizagem com seus alunos. Por fim, esses(as) professores(as) reivindicam, fundamentalmente, um lugar de pertencimento.