Diferenças na interação de isolados clínicos de Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii com macrófagos murinos

Abstract

A criptococose é uma doença causada por fungos do gênero Cryptococcus responsável por cerca de 181.000 mortes todos os anos. Leveduras de Cryptococcus neoformans geralmente causam doenças em pacientes imunocomprometidos, enquanto a espécie irmã Cryptococcus gattii é mais frequentemente associada à doença em hospedeiros aparentemente imunocompetentes. Neste trabalho, testamos a hipótese de que isolados de C. neoformans e C. gattii apresentam diferenças fenotípicas na sua interação com macrófagos murinos. Para isso células de isolados de C. neoformans (16 isolados da Fiocruz/RJ e 10 isolados do LACEN/DF) ou C. gatti (12 isolados da Fiocruz/RJ) foram co-incubadas com macrófagos derivados da medula óssea (BMM - tipo M1) de camundongos BALB/c ou células imortalizadas da linhagem J774 por 2h ou 24h. Após a interação avaliamos a fagocitose, sobrevivência fúngica e produção de citocinas por macrófagos. Em média, os isolados de C. gattii da FIOCRUZ-RJ foram mais fagocitados e apresentam maior habilidade de sobreviver à interação ao mesmo tempo em que induziram uma maior produção de TNF-alfa nos macrófagos em relação aos isolados de C. neoformans. Em contrapartida, os isolados de C. neoformans foram capazes de induzir maior produção de MCP-1 por macrófagos em relação aos isolados de C. gattii. Observamos também uma correlação positiva entre a sobrevivência fúngica e a taxa de fagocitose dos isolados de C. neoformans da FIOCRUZ/RJ, indicando que quanto maior for a internalização do fungo, maior a sua taxa de sobrevivência. Nós também observamos uma correlação negativa entre a produção da citocina IL-6, e a quimiocina MCP-1 por macrófagos e a sobrevivência fúngica após a interação para os isolados clínicos de C. neoformans da FIOCRUZ/RJ. Em conclusão, isolados de C. gattii foram fagocitados com mais eficiência, o que já havia sido previamente associado a uma melhor sobrevida dos fungos no sistema nervoso central. Os isolados de C. gattii também conseguiram resistir melhor à atividade antifúngica do macrófago e induziram uma diminuição da secreção de MCP-1 por macrófagos. O melhor entendimento das diferenças na interação de isolados das duas espécies com macrófagos poderá ajudar a entender melhor possíveis razões para as diferenças clínicas entre a criptococose causada por C. neoformans e a criptococose causada por C. gattii.