Tornar-se socioeducando – uma questão de arte : processos de imaginação e criação na socioeducação

Abstract

O presente trabalho está pautado nos princípios teórico-metodológicos da psicologia histórico-cultural, de modo especial nos estudos de Vygotsky sobre imaginação e atividade criadora. Essa atividade constitui o humano, perpassando por toda sua existência e promovendo o desenvolvimento dos processos psíquicos superiores. O objetivo dessa pesquisa foi compreender processos criadores que emergem na e da situação de privação de liberdade em adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação. Associados a esse interesse, identificou-se como o contexto de pobreza e a situação de privação de liberdade atravessam os processos de criação e como a atividade imaginária constitui-se como movimento de denúncia, resistência e de autorregulação. A escola, nesse estudo, configurou-se como um espaço privilegiado de incentivo e acolhimento dos processos criadores, apostando na educação estética como uma forma de ampliar a compreensão do sujeito sobre si e sobre o mundo. A experiência estética é uma maneira de acessar o pensamento criador e a reflexão crítica, que são habilidades essenciais para o desenvolvimento humano. Com relação aos procedimentos de construção de informações, optou se pela análise de letras de rap de autoria dos jovens que participaram do Festival de Música que ocorreu dentro da unidade de internação, nos anos de 2018 e 2020. As composições mostraram que há um contexto social complexo que influencia suas escolhas e comportamentos, mas que eles também são capazes de reconhecer seus erros e buscar mudanças positivas em suas vidas. A metodologia e as discussões dos resultados são apresentadas à luz da Análise dos Núcleos de Significação. No geral, os pré-indicadores apresentaram que o processo de composição das letras de rap é uma forma de expressão e de conexão entre os jovens no sistema socioeducativo. Tal atividade auxilia os adolescentes a lidarem com suas emoções e a se reconectarem com a sociedade de forma positiva. No entanto, ainda há uma percepção de que a sociedade os julgou por seu passado criminoso e não pela pessoa que são, o que indica a importância de mais investimentos em programas de ressocialização que tenham como referência as pesquisas desenvolvidas nessa área.