Avaliação da tuberculose latente em uma coorte de pacientes com Aids do Distrito Federal

Abstract

A infecção pelo HIV é um dos fatores de risco mais relevantes para o adoecimento por tuberculose, por isso, identificar precocemente a infecção latente da tuberculose permite a implementação de estratégias preventivas. O estudo objetiva avaliar a infecção latente da tuberculose em uma coorte de pacientes com HIV/aids do Distrito Federal. Trata-se de uma coorte prospectiva, realizada com 281 pessoas, em oito serviços especializados da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. Na identificação da infecção latente da tuberculose, utilizou-se em dois momentos, a Prova Tuberculínica e o QuantiFERON®TB-Gold in Tube. O risco anual de infecção tuberculosa foi calculado a partir da fórmula sugerida por Ruffino-Netto e Arantes (1976). Analisaram-se os dados utilizando o Software Stata®, versão 14, e foi utilizado o Teste de Cox, o Qui-quadrado, o modelo de regressão logística e o teste de concordância Kappa. Na análise do QuantiFERON®, utilizou-se o ponto de corte do fabricante e a categorização de Uzorka et al. (2018). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (Pareceres nos 660.786 e 1.475.747) e financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (Edital no 3/2014 – PPSUS, Processo N° 193.000.879/2014). A prevalência da infecção tuberculosa encontrada nas pessoas vivendo com HIV/aids foi de 14,9% e o risco anual, 1,8%. O tempo médio de acompanhamento dos pacientes foi de 2.365 dias. As respostas do QuantiFERON® Borderline negativo e QuantiFERON® positivo, associadas à Prova Tuberculínica, mostraram associação com o resultado da Prova Tuberculínica ≥10mm (p-valor<0,001). Pessoas duplamente vacinadas com BCG e história de contato com tuberculose, responderam positivamente à infecção latente da tuberculose, e não reverteram os testes. A conversão dos exames foi de 8,5% e a reversão, 3,2%. Fatores de risco associados à Prova Tuberculínica positiva foram a idade de 40 a 49 anos (RP= 1,45; IC95%: 0,29-7,46), não uso de álcool (RP=1,29; IC95%: 0,46-3,71), dose única (RP=1,60; IC95%:0,35-7,58) e duas doses de BCG (RP=3,11; IC95%:0,44-25,62). Para o QuantiFERON® positivo, duas doses de BCG (RP=1,86; IC95%:0,44-9,41), ≥9 anos de estudo (RP=1,54; IC95%:0,57-4,42), não fumar (RP=1,53; IC95%:0,36-7,06), CD4≥300cél/mm3 (RP=1,59; IC95%:0,21-12,97) e uso irregular do antirretroviral (RP=1,74; IC95%: 0,75-4,56). O percentual de adoecimento por tuberculose foi de 0,71%, os indivíduos eram negativos em ambas as testagens. O tratamento preventivo foi realizado em 64,3% da casuística, 33,3% não realizaram o tratamento e 2,4% iniciou e não concluiu a terapia. Concluiu-se que os testes para triagem da infecção latente da tuberculose foram importantes para essa população; e análise dos resultados quantitativos do QuantiFERON® com a inclusão do ponto de corte do QuantiFERON® borderline negativo, associado à Prova Tuberculínica positiva, incrementou a identificação da infecção latente da tuberculose nas pessoas vivendo com HIV/aids do Distrito Federal. Ficou evidente a transmissão da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis nas pessoas vivendo com HIV/aids, requerendo vigilância permanente, no que se refere à identificação dos casos e à melhoria da adesão ao tratamento quimioprofilático.