Cuidados paliativos em unidade neonatal : uma análise crítica de práticas discursivas e sociomateriais

Abstract

Nos últimos anos, apesar de maior divulgação e conhecimento sobre Cuidado Paliativo Neonatal (CPN), alguns problemas ainda são enfrentados durante a sua prática, como as perspectivas no entendimento de curar/cuidar, os mitos e os problemas no sistema de saúde. Desse modo, compreender o ambiente social em que o CPN acontece fornece possibilidades de refletir sobre as práticas sociais e as possíveis mudanças nesse contexto. Nesse sentido, esta pesquisa teve como objetivo principal investigar aspectos identitários, interacionais, discursivos e sociomateriais da prática social do CPN em um hospital público do Distrito Federal, a fim de analisar as práticas sociomateriais representadas pelos/nos discursos das profissionais de saúde que trabalham em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). Trata-se de um estudo com base teórico-metodológica na Análise de Discurso Crítica (CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2003, 2016; MAGALHÃES, 2000; MAGALHÃES; MARTINS; RESENDE, 2017; VIEIRA; RESENDE, 2016; VIEIRA, 2019, 2022) e nos Estudos Baseados na Prática (GHERARDI, 2011, 2012). A investigação qualitativa de cunho etnográfico e documental permitiu refletir sobre as interações e representações das profissionais de saúde, de diferentes profissões, à vista das ideologias envolvidas no contexto de suas relações sociais, especialmente como atuantes nas atividades de uma unidade neonatal da rede pública de saúde. Observa-se que uma visão limitada dos conceitos e práticas do CPN pode levar à subutilização de estratégias de cuidado em pacientes que poderiam se beneficiar deles em fases anteriores da doença. A análise aponta assimetrias de poder relacionadas à centralização do discurso médico e às regras institucionais, que podem limitar a participação e o envolvimento das famílias nas práticas de cuidado. Destacase a necessidade de uma abordagem mais inclusiva no ambiente da UTIN, na qual as famílias sejam vistas como parceiras no cuidado e suas perspectivas e conhecimentos sejam valorizados.