Avaliação do impacto e da adesão da vacinação contra a COVID-19 no Brasil

Abstract

Introdução: a doença pelo novo coronavírus 2019 (Covid-19) foi a responsável pela maior emergência de saúde pública dos últimos séculos. Desde 2020, mundialmente, mais de 607 milhões de pessoas foram confirmados para Covid-19, incluindo mais de 6,5 milhões de mortes. O Brasil foi um dos epicentros da pandemia de Covid-19, ocupando o terceiro lugar em número de casos (mais de 34,6 milhões) e o segundo lugar em mortes (mais de 685 mil) pela doença. Rapidamente, diversas vacinas seguras e eficazes foram desenvolvidas, aprovadas e distribuídas para combater a Covid-19. No entanto, o impacto do programa de vacinação e os fatores associados a adesão a essas vacinas merecem ser melhor compreendidos. Objetivos: essa tese foi desenvolvida com o intuito de analisar o impacto do programa de vacinação contra a Covid-19, após mais de um ano da sua introdução no Brasil, e investigar os fatores associados à adesão da população às recomendações das autoridades de saúde pública sobre o uso das vacinas COVID-19. Métodos: foram realizados dois estudos ecológicos. No primeiro estudo foram analisadas as tendências temporais das coberturas vacinais em relação aos indicadores de morbimortalidade pela Covid-19, em duas faixas etárias (18 a 59 anos/60 anos ou mais), pelos modelos de regressão de JoinPoint e de Poisson. Já no segundo estudo foi investigada a associação entre a taxa de abandono dos esquemas vacinais multidose das vacinas Covid-19 com indicadores geopolíticos, demográficos, econômicos, de desenvolvimento humano e de salas de vacinas por mil habitantes, obtidos no nível municipal. Realizou-se então uma análise espacial para detectar clusters municipais com elevadas taxas de abandono e dois modelos de regressão multivariáveis (Poisson e logística). Resultados: a variação percentual semanal média (VPSM) dos indicadores de morbimortalidade reduziram após a introdução da vacinação contra a Covid-19: taxa de hospitalização (de 15,3% para -6,0%), gravidade (de 0,4% para -0,2%), letalidade (de 0,3% para -0,2%) e mortalidade (de 20,5% para -4,3%). Os seguintes indicadores estiveram inversamente associados ao aumento das coberturas vacinais contra a Covid-19: hospitalização (IRR: 0,974), mortalidade (IRR: 0,975) e letalidade para as pessoas de 60 anos ou mais de idade (IRR: 0,997). A taxa de abandono média do país foi 7% (± 6,0%). Maiores proporções de municípios classificados com taxas de abandono altas foram encontradas entre os da região Norte (69,3%), de pequeno (II) (29,4%), com IDHM baixo (62,5%), apresentando índice de GINI < 0,25 (77,1%) e ≤ 1 (uma) sala de vacinação por 10 mil habitantes (24,9%). Foram detectados 29 clusters, o maior deles com o centroide localizado no estado do Pará (raio: 1.617,1 km), abrangendo 649 municípios e com taxa de abandono vacinal de 12,0%. Nos modelos de regressão finais, todas as variáveis estiveram associadas às taxas de abandono, exceto o número de salas de vacinação por 10 mil habitantes. Conclusão: o programa nacional de vacinação contra a Covid-19 contribuiu para o controle da morbimortalidade da doença no Brasil. Apesar das ondas epidêmicas que aconteceram devida a predominância de novas variantes e das elevadas taxas de abandono dos esquemas vacinais multidose, mesmo quando o país alcançou elevadas coberturas vacinais, a carga da doença foi menor após a introdução das vacinas COVID-19. A adesão da população foi fortemente influenciada por diversas questões municipais, tornando imperativa a adoção de medidas de saúde pública para dirimir as inequidades, incluindo o aumento das salas de vacinas para aumentar o acesso da população à essa importante tecnologia em saúde pública.