O Quilombo de Conceição das Crioulas : uma terra de mulheres : luta e resistência quilombola

Abstract

Esta pesquisa, realizada no Quilombo de Conceição das Crioulas, localizado no município de Salgueiro/PE, analisa o processo de organização de mulheres quilombolas na fundação, manutenção e defesa dos quilombos tendo como aspecto central a terra/território como sujeito ativo e situado nas práticas, vivências, resistência e (re)existência no Quilombo de Conceição das Crioulas/PE. A pesquisa teve como recorte temporal a fundação do quilombo em meados do século XVIII até o presente, período no qual investigamos e registramos a atuação e protagonismo de mulheres quilombolas. A pesquisa teve como objetivos: (a) historicizar com essas mulheres a centralidade da organização e luta pela terra/território e como estes aglutinam forças e mobilizam agências femininas para desenvolverem ações políticas no quilombo; (b) contribuir para quebrar alguns silêncios em relação às ações das mulheres quilombolas nas lutas por direitos; (c) refletir com as mulheres de Conceição das Crioulas, sendo eu uma delas, como produzir outros sentidos nos espaços (terra/territórios), baseando-se no passado (ancestralidade) e alimentando o presente para projetar o futuro em uma terra de mulheres; e (d) escutar e refletir com as mulheres o sentido de uma terra/território que não desterritorialize a ancestralidade, a organização social e a pertença de homens e mulheres quilombolas. O percurso da pesquisa evidenciou que: as mulheres quilombolas enfrentam as opressões a partir de estratégias diversas; que as organizações das mulheres quilombolas se alimentam das epistemologias do pensar-fazer-viver-sentir próprias dos quilombos; que há um silenciamento no fazer político das mulheres quilombolas; que os quilombos são invenções negras e femininas; que a terra/território é a base central do fazer político e organizativo das mulheres e que atuação políticas das mulheres quilombolas de Conceição das Crioulas como organização local guarda caraterísticas de um fazer político global de mulheres no Brasil, portanto, de um feminismo negro quilombola que se alimenta das práticas coletivas quilombolas. Metodologicamente propomos uma inovação, situando este trabalho como uma pesquisa compartilhada com as mulheres. Para tanto, acionei rodas de conversas, entrevistas, visitas às roças e grupos de artesãs, grupo das Aniversariantes do Mês e de uma horta comunitária local. Também no percurso metodológico, troquei cartas escritas com as mulheres, áudios e materiais escritos sobre a história de luta e resistência dos quilombolas de Conceição das Crioulas. Esta tese se constitui como uma contribuição aos estudos sobre quilombos, questões de terra e gênero, pois se propõe a narrar a história quilombola a partir da perspectiva de mulheres sobre suas formas de organização nos territórios quilombolas em diálogo com as teorias do feminismo negro e estudos decoloniais.