Narrativas de mulheres policiais militares : construção de significados a partir de mudanças e posicionamentos nas relações profissionais

Abstract

Estudos apontam para a baixa participação feminina nas polícias militares brasileiras. Ademais, mencionam a ausência de políticas institucionais e de demandas sociais no sentido de um maior aproveitamento das policiais militares femininas na melhoria dos serviços públicos de segurança e no enfrentamento da violência de gênero. Além disso, pesquisas indicam questões relacionadas à reprodução de estereótipos de gênero a partir da presença feminina em ambiente militar tipicamente masculino, resultado dos processos históricos de discriminação que traduzem as diferenças entre homens e mulheres e as reproduzem em forma de desigualdades. Diante desse contexto, questiona-se os dispositivos institucionais de invisibilização feminina e busca-se compreensão dos significados construídos em torno das mulheres, periferizadas e desvalorizadas nas relações de trabalho. Foi adotada a perspectiva cultural e dialógica do desenvolvimento humano, que considera o caráter dinâmico dos processos na constituição mútua pessoa-cultura e as relações dialógicas compartilhadas nos contextos culturais, com foco nas narrativas e trajetórias de mulheres policiais militares. O objetivo deste estudo é compreender processos de significação de mulheres policiais militares em relação aos valores institucionais da corporação militar do Distrito Federal, com ênfase nas mudanças e posicionamentos promovidos nas relações profissionais de contexto predominantemente masculino. Foi realizado estudo qualitativo e a coleta de dados foi concebida por meio de múltiplos instrumentos: entrevistas individuais semiestruturadas, roda de conversa e observação participante do contexto de pesquisa. Nove policiais femininos dos quadros da Polícia Militar do Distrito Federal participaram do estudo e foi utilizada a análise temática dialógica para tratar as narrativas oriundas das entrevistas individuais e da roda de conversa. A análise permitiu identificar os significados e a emergência de posicionamentos e mudanças nos processos de desenvolvimento pessoal e profissional das participantes, a partir do diálogo com a alteridade masculina. A discussão dos resultados sugere a manifestação de um padrão de socialização na instituição militar que reproduz o preconceito contra a mulher, a partir de uma construção social que define o papeis de gênero e as relações de poder entre homens e mulheres. Além disso, os resultados indicaram que são estabelecidas relações com base nas diferenças sexuais que reverberam na prática diária da atividade policial. A pesquisa contribui para o aprimoramento das corporações militares, a partir da possibilidade de ampliação do olhar crítico para a mudança, em especial, no que se refere à atuação e valorização da policial feminina, bem como para o reconhecimento do trabalho de mulheres em outros contextos predominantemente masculinos. Por fim, são discutidas as limitações da pesquisa e apresentadas recomendações para estudos futuros.