Estudo da migração química em solo laterítico melhorado com cal

Abstract

A estabilização química de solos lateríticos com cal é comumente adotada como solução técnica em pavimentos no Brasil, devido à escassez de jazidas apresentando solos com a qualidade adequada e/ou devido ao elevado custo de materiais alternativos como a brita. Esta solução técnica comprova, em ensaios laboratoriais e de campo de curto prazo, melhoras significativas das propriedades do material causadas pela aglutinação das partículas do solo e cimentações geradas. Contudo, análise após médio e longo período decorrido da execução da obra não são comumente realizadas e pesquisas recentes indicam que pode haver desagregação do solo já após um ano de sua disposição em campo. Desconhece-se também os efeitos das migrações químicas para os solos circunvizinhos. A presente pesquisa analisou uma ciclovia construída sobre subleito compactado e sem influência de tráfego pesado de veículos, cuja camada de base foi executada em 2018 com a aplicação, conforme projeto, de 3% de cal e sobre ela implantado um revestimento em CAUQ. Decidiu-se, 2 anos após a execução, dar início ao estudo para verificar migrações químicas que pudessem ter ocorrido. Procedeu-se então a coletas de amostras em 2020 e 2021 para a realização das análises. Constatou-se nas amostras coletadas na base valores de pH em H2O menores que os especificados e nas camadas inferiores os valores superaram aos esperados. Foi identificado em laboratório que o solo melhorado quimicamente mantido sem contato com o ambiente externo e preservando a umidade, reduz o seu valor de pH ao longo do tempo e que a secagem do material em estufa também causa este efeito redutor do pH, porém, não nos níveis registrados em campo. Após ensaios de pH, granulometria por sedimentação com e sem defloculante e análise química em três pontos da ciclovia e em 4 camadas com profundidades distintas identificou-se que componentes do agente químico presente na camada de base foram identificados até a profundidade máxima coletada, que foi de 70 cm, além da mudança da granulometria do solo em que a fração argila nos ensaios de sedimentação sem o uso do defloculante não foram mais identificadas em 2021, bem como que a fração areia do material aumentou a sua presença no solo não aditivado quimicamente sinalizando para agregações formadas. Ensaios químicos laboratoriais indicaram aumento dos íons de cálcio e magnésio, capacidade de troca catiônica e porcentagem de saturação de bases em todas as amostras analisadas subjacentes a camada melhorada quimicamente, apontando uma relação direta destes valores com o pH. Por fim, além das discussões dos resultados obtido propõem-se nesta dissertação uma metodologia para controle dos teores de cal em campo por meio da curva de “teor de cal x pH” e das determinações de pH in situ.