Comunidade de fungos micorrízicos arbusculares e genótipos de trigo submetidos a estresse hídrico

Abstract

O trigo é uma das principais culturas de cereais de grande importância econômica no mundo. No Cerrado brasileiro, seu cultivo é relativamente recente e vem ganhando espaço no cultivo de sequeiro, após a safra de verão. Contudo, fatores climáticos, como períodos de seca, são potenciais ameaças para o declino da produção. Em contrapartida, diversos estudos vêm demonstrando inúmeros benefícios da simbiose micorrízica na tolerância das plantas a diversos estresses, como o déficit hídrico. No capítulo I foram avaliadas a influência do déficit hídrico na associação micorrízica arbuscular em genótipos de trigo na região do Cerrado. O experimento foi conduzido em sistema plantio direto, utilizando 4 genótipos de trigo e 3 lâminas de irrigação dispostos em blocos casualizados em esquema de parcelas subdivididas com 3 repetições. Foram avaliadas a taxa de colonização micorrízica, o carbono da biomassa microbiana do solo; carbono orgânico total do solo; proteína do solo relacionada a glomalina; número de esporos e a caracterização de espécies de fungos micorrízicos arbusculares (FMA). A colonização micorrízica não foi influenciada pelos genótipos de trigo, mas foi favorecida pela maior disponibilidade hídrica, sendo 44,8% maior comparado à menor lâmina de irrigação. A umidade do solo correlacionou-se positivamente com os atributos microbiológicos do solo exceto o número de esporos. A comunidade de FMA associada aos genótipos de trigo foi similar, abrangendo 12 espécies, predominando Claroideoglomus etunicatum e Glomus macrocarpum. A baixa variação entre os genótipos de trigo para a estrutura da comunidade de esporos de FMA sugere ausência de influência seletiva das plantas na comunidade de FMA na área do estudo. A disponibilidade hídrica mostrou-se como fator dominante na associação micorrízica. No capítulo II, foi avaliado o efeito da simbiose micorrízica sobre a resposta da cultivar de trigo BRS404 tolerante a seca, submetido a estresse hídrico e níveis de adubação fosfatada. O experimento foi conduzido sob condições controladas em casa-de-vegetação com delineamento experimental inteiramente casualizado em arranjo fatorial 2 x 2 x 4 com 3 repetições, sendo duas condições de irrigação, presença e ausência de FMA e quatro doses de adubação fosfatada. Foram realizadas avaliações em parâmetros biométricos, parâmetros fisiológicos (trocas gasosas), avaliações micorrízicas e teores de nutrientes no tecido vegetal. Plantas micorrizadas apresentaram uma redução de 42% a massa seca da raiz, maiores taxas fotossintéticas e maior eficiência instantânea do uso da água, tanto em tratamentos sem déficit hídrico como nos tratamentos submetidos a estresse hídrico. Do mesmo modo, plantas micorrizadas mantiveram maiores concentrações internas de CO2 nas condições hídricas avaliadas. Durante o estresse hídrico, a condutância estomática e a transpiração foram maiores em plantas micorrizadas. Essas plantas micorrizadas apresentaram uma redução de 25% no extravasamento de eletrólitos. Nos teores de nutrientes no tecido vegetal, foi observado que plantas não inoculadas apresentaram maiores teores de nutrientes, exceto o fósforo (P). O acúmulo de P em plantas micorrizadas foi, em média, 89% maior que nas plantas não inoculadas. Conclui-se que plantas micorrizadas pela comunidade nativa de FMA são mais tolerantes ao estresse hídrico. Por outro lado, a diversidade de espécies nativas de FMA em área com histórico de cultivo com trigo, pode limitar a absorção e acúmulo de nutrientes no tecido vegetal.