O discurso de resistência de egressas do Programa Mulheres Mil do Instituto Federal Goiano : uma análise de discurso crítica

Abstract

Esta tese é a culminância de um estudo sobre o discurso das egressas do Programa Mulheres Mil, ofertado no âmbito do IF Goiano em 2017. As colaboradoras são dez egressas de cada um dos seguintes cursos, em seus respectivos Campi: Processamento de derivados do leite, frutas e hortaliças - Ceres; Horta caseira - Hidrolândia; Salgadeira - Iporá e em Urutaí; Manicure e pedicure - Rio Verde e Artesanato à mão - Posse. O problema social ou a questão que move o estudo é a desigualdade de gênero, em especial, a violência contra as mulheres. Ao longo do trabalho, com base nas ações e discursos proferidos pelas egressas sobre os efeitos do Programa na vida delas, problematizo as questões de gênero e suas intersecções dentro de contextos globais e locais que revelaram várias formas de violência, mas também, práticas de emancipação, empoderamento e resistência. Esse é de fato, o foco para as análises (o cruzamento dos significados representacionais e identificacionais, sem excluir os acionais). A pesquisa está ancorada nos aportes teóricos e metodológicos da Análise de Discurso Crítica (ADC) e os Estudos Críticos do Discurso (ECD), respaldados por Fairclough (2000; 2001; 2003; 2016 [1992]), Chouliaraki e Fairclough (1999), Wodak (2003), Wodak e Meyer (2001), Van Dijk (2004), bem como inserções na Educação Crítica (FREIRE, 2012; GIROUX, 1997; HOOKS, 2013, 2019). Também me baseio nos estudos de Giddens (2002), Hall (2006), Bauman (2001; 2005; 2007), Silva (2000; 2010) e Dubar (2005), visto que o trabalho apresenta implicações com questões de identidades. Poynton (1989) e Magalhães (1995, 2006) também são referências para estudos acerca das identidades de gênero social. Esses motes nos levam certamente aos estudos sobre as performatividades de gênero social de Butler (2018), bem como às relações entre gêneros e intragêneros sociais a partir de perspectivas críticas e decoloniais feministas (LUGONES, 2008, 2014; LAZAR, 2005, 2007; CARNEIRO, 2005; COLLINS, 2017, 2019; AKOTIRENE, 2019). Tendo em vista as especificidades da pesquisa, os estudos de ideologia são conceitos-chave. Nesse sentido, pauto-me nos achados de Althusser (1974; 1980), Žižek (1996), Gee (1990), Gramsci (1971), Van Dijk (1998), Thompson (2011), Eagleton (1997), no que se refere às ideologias estabelecidas socialmente para homens e mulheres, na vida social e no mercado de trabalho. Saffioti (1995, 2001, 2004; 2015); Rocha (1996), Segato (2018b), Brasil (2006; 2015) acerca da violência e mais especificamente, violência contra mulher. Para tanto, o objetivo geral é compreender os efeitos sociais, discursivos e identitários como contribuições sociais trazidas para a vida das egressas a partir do Programa Mulheres Mil, do IF Goiano. Considerando os objetivos do Programa, tem-se como objetivos específicos: a) analisar representações discursivas relacionadas às questões de gênero social, entrecruzamento de discursos e interseccionalidade; b) analisar as representações de vivências com a violência na constituição identitária das egressas do Programa Mulheres Mil, com vistas a compreender como essas práticas são negociadas, interpretadas e quais foram as estratégias de combate à violência doméstica e familiar discutidas durante o curso, como sugerem os eixos norteadores do Programa Mulheres Mil; c) verificar de que modo o acesso às leis e aos direitos da mulher, discutidos nos cursos, influenciaram nas práticas de combate à violência sofrida pelas mulheres; e d) verificar os efeitos do Programa Mulheres Mil na vida das egressas no tocante ao mercado de trabalho e seus desdobramentos discursivos. Assim, uso as seguintes técnicas e instrumentos para a geração de dados: questionários, entrevistas semiestruturadas individuais, gravadas em áudio e análise documental com base em Bauer e Gaskell (2017) e Flick (2009). Portanto, o estudo parte da seguinte problemática: como o Programa Mulheres Mil mostra sua materialidade na redução das desigualdades de gênero ao abordar questões de gênero, raça, nível de escolaridade e classe social nas práticas sociais cotidianas das mulheres atendidas? Os resultados apontam para lutas sociais tanto nas relações de poder inerentes ao processo de constituição identitária dessas mulheres quanto na resistência às diversas formas de violência doméstica e familiar. Além disso, mostram que o processo de constituição das identidades se dá na multiplicidade, no imbricamento das concepções ideológicas e nas relações de recusa e pertença, autoatribuídas e atribuídas socialmente pelas representações sociais de gênero e as interseccionalidades que as circundam.