Brasília e Cerrado : leituras do território por meio da paisagem

Abstract

Brasília é um marco emblemático do movimento de interiorização do Brasil. Sobre as chapadas e chapadões do Planalto Central, na área core do bioma Cerrado, ergueu-se a nova capital, a partir da qual se buscava irradiar o progresso para todo o país. A intensificação de dinâmicas econômicas, demográficas e políticas decorrente dessa nova centralidade instaura um efeito catalisador sobre a capital e o seu território. Assim, em pouco mais de seis décadas de sua construção, Brasília – metrópole e região – reflete a problemática global de consumo acelerado do território, um dos maiores propulsores do desequilíbrio ambiental do planeta. A urbanização dispersa, seguida de processos de conurbação e crescimento desordenado, e a expansão intensiva de áreas agrícolas e pastagens respondem pela fragmentação e fragilização do Cerrado na região. Trata-se de conjuntura ecológica que se agrava diante da difundida divisão epistemológica entre sociedade e natureza que leva o ser humano a ocupar e transformar territórios de forma dissociada dos sistemas ecológicos aos quais integra. Para revertê-la é fundamental a superação desse olhar fragmentado e a construção de uma abordagem integradora da sociedade e seu território. A fim de contribuir com a construção dessa abordagem, esta investigação adota a paisagem como via de interpretação do território, que deixa de ser visto como mero fragmento geográfico, para, então, ser apreendido por meio do conjunto de relações entre atributos físicos, bióticos e sociais que o configuram e transformam. Para tanto, trabalha-se noção de paisagem enquanto linguagem e base metodológica a partir da qual se propõe leituras de Brasília integrada ao Cerrado, percorrendo a história secular da capital, desde as primeiras concepções à metropolização. Essa trajetória é elucidada por meio de cartografias que relacionam matriz biofísica e formas de planejar e ocupar o território. Essas leituras permitem a apreensão da acelerada transformação do território estudado, bem como a identificação de tendências e vulnerabilidades que incitam à reconfiguração dessa realidade socioecológica.