Do meme ao artigo de opinião : caminhos multiletrados e multimodais no ensino de língua portuguesa

Abstract

Esta dissertação objetiva analisar como os estudantes de um cursinho preparatório para o PAS gratuito, comunitário e popular, na cidade de Ceilândia – DF realizam processos de retextualização e de ressemiotização, que foi desde a produção de um meme, até a produção de um artigo de opinião. Para isso, foi proposta uma identificação de como a multimodalidade se manifestou em ambos os textos, considerando a densidade e a configuração modais e como estas mobilizaram sequências argumentativas. Além disso, como ocorreram os processos de ressemiotização e de retextualização em ambos os gêneros discursivos e na passagem de um para o outro. Para a base teórica, partimos da perspectiva da sociolinguística interacional, considerando a multimodalidade (NORRIS, 2004; NORRIS, 2009; JEWITT, 2009; DIONISIO, 2011) como foco de nosso estudo, assim como os multiletramentos (ROJO, 2009; STREET, 2014; BUZATO, 2006) que, de forma integrada, colocam lentes de aumento sobre os dados construídos conjuntamente. Além disso, os conceitos de retextualização (MARCUSCHI, 2010) e de ressemiotização (IEDEMA, 2001). A pesquisa está inscrita sob o paradigma da pesquisa qualitativa (FLICK, 2004; CHIZZOTTI, 2003) e com o uso de ferramentas etnográficas (CANÇADO, 1994), valendo-se também da netnografia (KOZINETS, 2014) para a construção conjunta de dados. Pela pesquisa foi possível perceber o quanto devemos nos atentar para o estímulo de uma abordagem de ensino de textos que privilegie os letramentos que os estudantes já detêm, para a introdução de novos letramentos, de forma que a construção do conhecimento ocorra de maneira próxima, interativa e, sobretudo, atrelada à realidade deles. Os resultados apontam para o sucesso de um processo de aprendizagem que considera um gênero discursivo que faça parte do cotidiano dos estudantes, que pela visão vygotskyana corresponde à zona de desenvolvimento real como produção inicial e uma transformação/retextualização para o artigo de opinião, correspondente à zona de desenvolvimento potencial. Prática que tornou o processo de escrita, antes citado por elas, como “difícil”, mais aproximado da realidade das colaboradoras dessa pesquisa.